“Vida. Desenho emaranhado. Desemaranhar a trama intrincada, miúdo balé de agulhas e linhas desenhando num pano histórias silenciosas, contadas pelas mãos. Os lábios, cerrados. Os olhos, na alma. Em cada ponto, um canto. O bordado fotografa filigranas do invisível. Tece raios de sol, revela aos olhos o peixe no fundo d’água, pinta luz da lua em céu cor de rosa… Suas flores não secam nem murcham. No bordado, tudo é maravilhamento. Arrebata-me também o avesso, espelho imprevisível dos nós cegos do meu peito riscado de paisagens. Por horas a fio, o tempo cavalga os novelos, como um beduíno palmilhando o deserto eterno e monocromático. Um bordado, o oásis! E no fim, resta ao tecelão o coser dos dias, seguindo, ponto a ponto, num quadro inacabado onde toda imagem desmorre em matizes nascidas no tear de Deus.” (Fernanda de Paula)
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